Querida “comunidade LGBT”, precisamos conversar sobre a rejeição

The Kinsey Scale

Querida “comunidade LGBT”, precisamos conversar.

Neste mês do orgulho LGBTQ, não temos muito a celebrar além do fato de estarmos vivos. Mesmo depois de anos de lutas históricas por direitos, respeito e igualdade, parece que estamos andando pra trás em vários sentidos, principalmente no discurso de ódio que toma a conta das redes sociais e dos espaços públicos.

 

Antes, lutávamos por igualdade. Hoje, lutamos pelas nossas vidas. O direito de viver, da integridade física. Tem noção do que é isso? O que estamos fazendo para que tenhamos essa liberdade? Precisamos fazer mais do que colocar a bandeira do arco-íris no Facebook, para que possamos viver com dignidade, diferente da cartilha ditada pela sociedade conservadora.

 

A família tradicional é um padrão vendido em muitos países, que pode ser um conceito muito mais machista e misógeno em outros – onde gays e mulheres sofrem muito mais. As regras cagadas por pessoas que vivem este padrão, jogam nas costas de jovens LGBTQ de todos os cantos, um carma coletivo que é o de viver dentro de uma família e sociedade conservadora, te pressionando constantemente pra seguir uma vida que eles querem – e não como você quer, como você é, de verdade.

 

Não poder dançar, ter que gostar de futebol, ter namorada pra apresentar pra família, usar um vocabulário “malandro”, e ser macho, sem sensibilidade. É a totura diária que muitos jovens LGBTQ viveram no passado, e continuam vivendo até hoje.

 

Quantos homens casados com mulher e “macho” sem camisa com a cabeça cortada existem no Grindr (aplicativo gay de pegação)?

 

Muitos. Em todos os lugares.

 

Presos, com medo de se assumir, acabamos enfrentando os mais diversos paradoxos na descoberta da própria sexualidade. Um processo que entra em confronto com aquele padrão que a sociedade espera que você seja: o macho.

 

Só que muitas das nossas características estão no nosso DNA, nos nossos genes. Não dá pra controlar. Não tem como mudar. NÃO É OPÇÃO SEXUAL.

 

Toda aquela informação que irá definir por quem você se atrai, como o seu corpo reage e como a sua cabeça se enxerga na questão de gênero, faz parte do código genético de cada um. E crescer lidando com isso é uma montanha russa de sentimentos e emoções que desencadeiam numa série de questões mentais.

 

E sobreviver esse processo sem o suporte profissional, de amigos e família, pode ser doloroso. Surgindo sinais de ansiedade, desconforto, medo e a possibilidade de desencadear uma depressão sem fim.

 

No pior dos casos, muitos acabam como um homofóbico – gay enrustido. Aquele que se prende totalmente aos padrões que a sociedade lhe impõe, finge ser hétero, mas está sempre pulando a cerca. E acaba por atacar o outro, o que é livre, que vive a vida que o homofóbico não conseguiu conquistar.

 

Considero todos os LGBTQ pessoas vitoriosas. Ainda mais aqueles que são autênticos, únicos, divertidos e sem medo de se assumir pra si e para todos. Eu mesmo como gay, ainda estou perdendo o medo de me expressar da minha maneira, com autencidade, mesmo em frente de amigos héteros. A cada dia é uma grande vitória.

 

Talvez seja por esse motivo que a “comunidade gay” leva consigo um carma pesado – e coletivo – que é o da rejeição. Recebemos tantos “nãos” durante a nossa infância e juventude que, ao nos tornarmos gays assumidos (ou não), passamos a jogar isso de volta pra própria comunidade LGBTQ.

 

Estou falando do ódio de classe, da indiferença, do racismo e preconceito. Muitas bixas se dividem por grupos, como se fossem castas. E a partir dos padrões compartilhados por cada grupo, criam seus próprios julgamentos e começam a destilar o seu ódio – muitas vezes em forma de piadas sem graça – em cima de outros que são diferentes de si.

 

E esse comportamento vem de todos os lados, grupos, tipos, de LGBTQ:

 

Lésbicas, Gays, Barbies, Drags, Transgêneros, Bissexuais, Fashionistas, Ursos, etc. O respeito não escolhe o tipo de pessoa ou o grupo em que ele orientará a vida de alguém.

 

Uma das piores reações daqueles que sofrem com rejeição, é a da pessoa que leva um fora e passa a transformar o crush que não vingou em inimigo pra vida.

 

Gente, se duas passivas não dão certo, que se tornem amigas, não inimigas.

 

Falam tanto das mulheres, que elas adoram fazer fofoca e criar confusão, mas tem muita bixa barraqueira por aí. E nem precisa ser afeminada pra fazer isso.

 

Dão piti, rosnam como uma gata nervosa no cio, preparada pra te arranhar a qualquer momento.

 

Uma certa vez, em uma festa de gays brasileiros, um dos caras ficou o tempo todo dando em cima de mim. Até que, com a minha permissão, ele me abraçou e veio querendo me dar um beijo na boca. Ao ser recusado, o cara parou de falar comigo e se afastou. Nunca mais mandou uma mensagem, uma interação ou fez questão de falar um oi nas outras vezes que nos encontramos.

 

Parece que receber um “não” de alguém, dentro da comunidade LGBTQ, pode ser ainda mais desafiador pelo fato de carregar um histórico de rejeição que sofreu na infância e adolescência.

 

É completamente compreensível que muitos LGBTQs tenham comportamentos aríscos para com os outros, até por conta da repressão que muitos viveram. E é exatamente por este motivo que precisamos conversar sobre isso, criar um ambiente de suporte e de apoio, para a aceitação dos outros e de si mesmo.

Ultimate Gay Fighter

Fazer terapia é o melhor caminho para se descontruir e se construir novamente. Mas não é o único: participar de grupos de discussão, voluntariado, ir em shows de drag, festa de urso, de couro, de hétero e afins. É abrir a cabeça para vivenciar outras realidades e aceitar pessoas diferentes do que você já é.

É muita hipocrisia falar de orgulho gay enquanto oprime o amiguinho de uma mesma minoria ~nem tão minoria ssim~ que não faz parte da sua panelinha. O respeito serve não só para si – em quesito de orientação sexual – mas também quando se trata de classe, raça, etnia, identidade de gênero, ideologia política, credo, toda e qualquer característica que faça o seu semelhante ser um pouco diferente do que você é.

 

Liberdade de expressão não significa atacar o próximo falando tudo o que se pensa, pegar uma arma e sair por aí atirando em todo mundo. As palavras também ferem as pessoas. Isso é libertinagem (falta de educação). E é o que menos precisamos nos dias de hoje.

 

Se é paz o que queremos, seja ela na terra e dentro de si, que comecemos dentro da nossa própria “comunidade”, ao respeitar o coleguinha.

 

Como dizem por aí: aceita, que dói menos.

Sobre Gustavo Santi

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