
Há mais de um ano, em março de 2016, havia decidido que não gastaria mais energia discutindo sobre política ou acompanhando noticiários do que acontecia no cenário político ou social – no Brasil e no mundo. Como eu trabalhava part-time na cozinha, foi fácil tomar essa decisão. A única preocupação, era manter a televisão ligada (para os clientes que estavam a comer) no canal da previsão do tempo, em um documentário do Netflix ou em alguma playlist musical.
Parte deste processo se deu em dar unfollow (sem descurtir) todas as páginas dos políticos que seguia, dos canais que abordavam o assunto e abrir espaço para que outros conteúdos aparecessem nos meus aplicativos de leitura. E nos 10 meses que se passaram, essas ações foram excelentes pra manter a mente sã, me exercitar, conhecer pessoas do mundo inteiro e poder focar as energias naquilo que realmente precisava: estudar inglês, espanhol e negócios no Vale do Silício.
Só que neste ano, janeiro de 2017, comecei a trabalhar para o Facebook. E ao voltar a lidar com as notícias diariamente, me senti novamente conectado aos assuntos que tentei ficar longe. Entre eles, o da política. E por mais que você queira, é praticamente impossível não se tocar com o que acontece no cenário político mundial.
Trabalhar com comunicação no Brasil, pode ser muito divertido e gerar um conhecimento rico no decorrer do dia. Uma vez ouvi da minha ex chefe, quando trabalhávamos para a revista Veja, que: “O bom de trabalhar com conteúdo é que se aprende algo novo, todos os dias”.
Diagnóstico: quase surtando
Nos últimos cinco meses deste ano, além de conhecer pessoas incríveis, mergulhar no universo de uma empresa cheia de coisas bacanas, pude me aprofundar na pesquisa, análise de conteúdo e entender como notícias influenciam o sentimento da sociedade. E foi possível perceber que, além das técnicas sombrias de produção de conteúdo que muitos jornalistas usam, qual é o lado que mais mente no intuito de controlar as multidões. No expectro político e social, se usam táticas maquiavélicas para ganhar cliques, impressões de páginas e a atenção dos leitores/expectadores.
Não estou aqui para julgar partidos, nem esquerda x direita, até porque preciso manter o meu posicionamento neutro no âmbito profissional, sendo que ambos os lados usam esssas táticas para atacar uns aos outros. Mas, para quem lida com isso todos os dias, fica evidente quem são as organizações que mais manipulam informações acompanhadas do discurso de ódio, que chegam mastigadas para o consumidor final.
Há um mês atrás, me encontrei novamente deprimido. Descobri que era quase impossível conversar sobre assuntos extremamente delicados sobre política com meus amigos, família e alguns colegas de trabalho no Brasil que seguem a grande mídia, sem sentir uma tristeza por ver como muitos estão contaminados pelo sentimento do discruso de ódio. Hoje, me sinto um peixe fora d’água, por pensar diferente da maioria.

Foi quando me peguei comprando uma cerveja, logo depois de um dia estressante como esses, e me perguntei: “o que estou fazendo?”. Não faz sentido beber no meio da semana só para afogar as mágoas. E me lembrei da depressão que sobrevivi aos 27. Lembrar doinferno foi um sinal, para que eu cuidasse de mim. É mais importante cuidar da nossa saúde física e mental, e deixar de lado essa vontade de querer salvar o mundo avisando as pessoas sobre o que acontece do outro lado da tela de um computador, no caso, das notícias.
Há algumas semanas atrás, assisti uma palestra que me marcou bastante. O palestrante, ex-ativista e sociólogo, disse “minha vida mudou quando deixei de ser ativista para me tornar fazedor”.
E essa é a mais pura verdade: nós não mudamos a opinião de uma outra pessoa por um debate. É praticamente impossível rebater uma ideia de alguem que já tenha a opinião bem formada sobre algo. A única forma de fazer com que uma pessoa transforme, é proporcionando experiências onde, pela empatia, ela possa mudar de ideia.
Por isso, nada melhor do que compartilhar algumas atividades que, de fato, estão me ajudando no dia a dia a sobreviver, com saúde mental e física, a essa guerra midiática:
Evitar os debates:
Essa é, sem dúvida, a tarefa mais desafiadora. Afinal, é muito difícil escutar ou ler alguém escrevendo uma grande besteira e ver várias pessoas concordando com tal absurdo. Os dedos coçam pra escrever. Mas a cada fechada de página e mudança de assunto, o sentimento de vitória é muito maior do que a energia gasta em um debate que provavelmente não irá te levar a lugar algum.
Ler livros
As mídias sociais podem ser sim uma boa fonte de informacão. Mas jamais devemos substituir os livros, artigos técnicos e estudos mais aprofundados por um título de notícia. Além de aprender algo com mais consistência, as chances de se prender à uma história, à um livro e ficar longe das notícias ruins são bem maiores e, o conhecimento, é uma coisa que ninguém te tira.
Praticar exercícios
Tem dia que fico irritado. Títulos sensacionalistas, matérias mentirosas e tanto conteúdo sem valor social positivo que o que sobra na cabeça, é a raiva. Só que, a raiva, o rancor e o ódio, é um veneno que a gente toma pensando que o outro irá morrer. Por isso, deixo pra descontar toda essa energia acumulada nas corridas, pedaladas, na piscina e num treino bem puxado na academia. Dá um prazer gigantesco, um alivio sem tamanho e fica mais fácil pra esvaziar a mente no final do dia.
Meditar
Ok. Nos últimos anos parece que Yoga e meditação se transformaram atividades da moda, como o crossfit e o cupcake. Mas é uma prática milenar e pode ajudar muito aqueles que são inquietos, como eu. Pude ir em alguns templos, como fazia o Steve Jobs, mas não deixo de meditar – todos os dias, na minha casa. Existem vários tipos e maneiras de praticar meditação, só que é como a academia: só irá dar resultados se for praticada diariamente. E é excelente pra “resetar” a mente e focar nos pensamentos positivos.
*comecei um grupo de meditação dentro da empresa pros meus colegas que enfrentam os mesmos desafios. Está sendo incrível.

Observar a alimentação
Descontar na comida é um grande erro. Ainda mais quando se tem uma cozinha cheia de besteira ao seu alcance. Por isso, tenho tomado muito cuidado com a alimentação. Tenho garrafas d’água espalhadas em todos os lugares: no escritório, na mochila, no quarta, na cozinha. Também tenho evitado alimentos industrializados, pão, farinha, açúcar, sal e temperos artificiais. Carne, só quando alguem pede e não tenho como ser radical. Deixo pra estrapolar no final de semana, bebendo com amigos ou num restaurante em uma ocasião especial. De resto, muita água, frutas, verduras, legumes e cereais – como o ser humano fazia antigamente.
Social – estar com pessoas
Por último e tão importante quanto estar só, é preciso estar junto. Depois que me mudei do Brasil, passei por algumas situações de ataques xenofóbicos. Vindo de pessoas que – pasmem – acompanham essas notícias. E temer a este sentimento de medo, insegurança, faz com que nos isolemos, pra evitar que algo aconteça na rua. Mas isso não é bom, e não é verdade. É preciso sair de casa, ir ao encontro das pessoas. Dos amigos, dos colegas de trabalho, da escola. Estar rodeado de pessoas do bem é essencial para manter o alto estado de vida. E isso é algo que não podemos abrir mão.
Por fim, se você tem a oportunidade de ficar longe dos noticiários: faça. Afinal, qual é o significado de se manter informado? Consumir conteúdos travestidos de “notícia”? Hoje em dia, confiar em certos canais, pode ser um ato suicida quando se tem um mundo de possibilidades e canais diferentes para aprender coisas relevantes para a sua própria vida.
“Questione a autoridade. Nenhuma ideia é verdadeira só porqure alguém disse, inclusive eu. Pense por si mesmo. Questione-se. Não acredite em nada só porque você quer. Acreditar em algo não faz com que seja verdade. Teste ideias pela prova obtida através da experiência.” Neil deGrasse Tyson